sábado, abril 1

A "Carta" de Fernanda Leitão. Há desenvolvimentos...

E aqui está o sempre desejado correio de Toronto. Com assinatura.



CARTA DO CANADÁ

Fernanda Leitão

Deportados, culpados e o resto


Voltamos ao assunto, pela agitada comoção que provocou o caso dos portugueses expulsos do Canadá e porque há desenvolvimentos que importa deixar claros.

Vamos a factos.

No Canadá, pelo menos desde 2001, há milhares de portugueses entrados neste país como turistas e que decidiram ficar, trabalhar e organizar a vida aqui. O número certo não se conhece, por razões óbvias, mas calcula-se que sejam entre 10 a 15 mil. Os homens, na sua grande maioria, têm estado a trabalhar na construção, ao passo que as mulheres trabalham, em geral, nas limpezas e como empregadas de restaurantes. Tempos depois de terem chegado, quando já se tinham afeiçoado à terra de acolhimento e se sentiam bem, umas centenas deles tentou-se por entregar o seu desejo de legalização aos (vários) conselheiros de imigração lusófonos. Os que tiveram sorte, encontrando conselheiro honesto, souberam que era praticamente impossível tornarem-se imigrantes vivendo no Canadá. Teriam, munidos de um contrato de trabalho, de rumar a Portugal pelo tempo considerado suficiente pelo consulado do Canadá para organizar o processo e autorizar a entrada do novo imigrante legal. Alguns assim fizeram. Os de menos sorte caíram nas garras de conselheiros sem escrúpulos que os induziram a apresentar pedidos de refúgio, uns por razões políticas, outros por questões religiosas. Houve casais que pagaram logo no início 7 mil dólares. Quando o pedido foi recusado, o cliente voltou a ser manipulado para que embarcasse nos apelos sucessivos e aí, nunca pagavam menos de 2 mil dólares por cada um, de cada vez.

Sabe-se agora, sem margem para dúvidas, que praticamente todos receberam avisos de expulsão há pelo menos um ano, já que há muitos que o receberam há dois e até três anos. Estavam no governo federal os liberais. Iludidos pela falsa esperança dada pelos conselheiros, deixaram correr o tempo. E o tempo esgotou-se. Foi então que, com duas semanas de antecedência, ou até apenas de uma, foram notificados da data e hora do vôo que os levaria de volta à Pátria donde só poderão regressar ao Canadá dentro de sete anos e devidamente legalizados. Foi então que, de cabeça perdida, gritaram por socorro, muitos deles tendo casas, carros e negócios sem venda fácil em meia dúzia de dias.

Os deportados começaram a chegar a Portugal, com a bateria cerrada das televisões, rádios e jornais à espera, e foi um verdadeiro escândalo, com gritos em todos os tons contra o Canadá e suas autoridades, ficando no ar uma girândola de versões e palpites. Foi então que o ministro dos Negócios Estrangeiros, Diogo Freitas do Amaral, tomou a oportuna decisão de vir a Otava esclarecer a situação com os ministros canadianos da Imigração e das Relações Exteriores, do novo governo de minoria (conservador).

O ministro Freitas do Amaral, que é um jurista de alto gabarito e um homem público honesto, mandou que fosse contratado um advogado canadiano, especializado em imigração, que o pusesse ao corrente da política de imigração praticada por este país. Chegou a Otava numa quarta-feira ao fim do dia e esteve com o advogado toda a manhã, ficando saber o necessário da legislação local. À tarde, reuniu com o ministro da Imigração e Cidadania, Monte Solberg, e com o ministro das Relações Exteriores, Peter MacKay. Houve uma primeira parte exploratória, durante a qual Freitas do Amaral garantiu aos governantes canadianos não pôr em causa a lei de imigração vigente no país, nem pretender indicar um prazo mais dilatado para os deportados saírem por entender que essa conquista tem de ser feita pelas centenas de milhar de luso-canadianos residentes.

Cientes de que do lado português não havia a mínima tentativa de ingerência na política do seu país soberano, os governantes canadianos tiveram com Freitas do Amaral uma conversação descontraída, flexível e colaborante. Os canadianos prometem pensar a sério na reabertura do consulado do Canadá em Lisboa (há anos que passou para Paris) e foram receptivos a reuniões de um grupo trabalho constituído por elementos da Imigração e das Relações Exteriores, e de dois funcionários da embaixada de Portugal, que começarão na próxima semana e se destinam a estudar o caso em todos os ângulos, incluindo o da abordagem de empresas de construção dispostas a fazer contratos de trabalho aos ilegais portugueses. Em contrapartida, Freitas do Amaral garante a realização em Portugal de uma campanha de informação destinada a todos os candidatos a emigrantes, para todos os países de acolhimento, de modo a que não caiam em logros como foi este do Canadá, da Holanda e Espanha.

Foram estas as informações que Freitas do Amaral deu, em Toronto, na sexta-feira, por longas e exaustivas horas em que recebeu no consulado de Portugal as chamadas forças vivas da comunidade, o que naturalmente incluíu a comunicação social. Adiantou, contudo, que havendo indícios de haver em Portugal engajadores de emigrantes, quem sabe se mancomunados com quem tão falsamente guiou estes portugueses agora deportados, tenciona entregar, o mais depressa possível, ao Ministro da Administração Interna, um pedido de investigação criminal de toda esta teia. Seria muito útil que os portugueses enganados em Toronto, apresentassem queixa à polícia, com provas factuais, dos conselheiros de imigração que os defraudaram. Seria um acto de civismo que honraria os portugueses.

E agora, vamos aos culpados.

Embora seja penoso, há que referir os próprios portugueses que se meteram nesta situação. Tem causado estranheza, em Portugal e mesmo entre os canadianos, a completa e cega confiança com que se entregaram nas mãos dos conselheiros de imigração. Mas não será também estranho que portugueses, gravemente doentes, se entreguem a curandeiros e bruxas? E os que compram o vigésimo premiado? Que pancadão atávico é este? Os psicólogos e sociólogos que digam de sua justiça.

Passamos, claro, aos conselheiros de imigração, useiros e vezeiros nestas tratantadas, corruptos e ignaros, gozando a reles impunidade oferecida de bandeja por um povo cabisbaixo que é capaz de bater as palmas a um touro mas foge da polícia.

Não podemos deixar de apontar, como irresponsáveis cúmplices, todos os que fecharam os olhos a este estado de coisas e, na prática, taparam aqueles que bem conhecem. Esses falsos vesgos, que andam agora por aí aos gritos a clamarem a sua inocência, a sangrarem-se em saúde, são os próprios Conselheiros das Comunidades, sempre tão prontos a criticar o governo de Lisboa, a querer dar-lhe lições, sempre armados em salvadores da Língua Portuguesa (que muitos deles tratam tão mal), mas que não foram capazes de avisar, a tempo e horas, quem de direito. A lista segue com o Congresso Luso-Canadiano, a Federação dos Homens de Negócios, os empreiteiros que empregaram ilegais e bem lhes soube porque eram calados, os sindicatos da construção que cobravam quotas a esses trabalhadores, os próprios padres que bem sabiam de toda esta lástima, os dirigentes dos clubes, a comunicação social local que se calou. O único conselheiro social consular com coragem para denunciar toda esta situação, o de Toronto, está gravemente doente há muitos meses. O de Otava, de quem os de rabo entalado lamentam a cessação de contrato, consumiu a maior parte do seu tempo com um curso de Português na Universidade de Otava, bem controverso, e com noites de cinema português.

Diogo Freitas do Amaral não é um bombeiro da política. É um tenaz corredor de maratona. Prova disso foi a nota pedagógica das suas palavras em Toronto: considerou que foi importante ter conseguido o encontro anual de ministros dos Negócios Estrangeiros de Portugal e do Canadá, as portas que deixou abertas para uma fecunda relação bilateral em domínios vários.

Last but not least, vários imigrantes de outros grupos étnicos fizeram saber da sua satisfação pelo trabalho do ministro português, já que eles não tiveram um único governante dos seus países que viesse valer-lhes.

Em resumo: foi uma visita positiva. Cabe agora à comunidade luso-canadiana o civismo de exigir trabalho aos deputados federais por quem se vota.

5 comentários:

Anónimo disse...

Grande Fernanda na "mouche"tanta gente culpada e só agora é que se lembraram de aparecer os profetas da salvacão. Em Otava,capital da nação, como pouco há que fazer nada melhor que prestar declaracões a imprensa e potenciar o problema de forma a trazer cá um Ministro, é preciso ser maquiavélico...... onde isto vai parar

Anónimo disse...

Pelas declarcões prestadas pelo DFA em Lisboa, chegamos a conclusão que a montanha pariu um mosquito e não um raTO(ronto),como foi possível chegar a isto.
Ainda bem que o Sr.Ministro deve ter percebido como tudo isto começou.Imaginem, num embaixador que nem sabia que os deporatdos tinham sido avisados com mais de um ano de antecedência. Meus Deus como andas distraído.

RL

Anónimo disse...

Fernanda, continua assim vais ver que alguns, ainda, vão ter de recorrer a bruxa que fala Português.
Sabemos quem são os grandes culpados de todo este imbróglio. Aceitam-se aposta para o "top ten".
Padres,diplomatas,conselheiros,empreiteiros, amigos da onça,etc; estarão no top de certeza.

Anónimo disse...

Com o "BOY IN TORONTO" vai ficar tudo resolvido...

Anónimo disse...

GRANDE FERNANDA, ATE QUE ENFIM QUE ALGUEM TEM A CORAGEM DE DIZER TODA A VERDADE SOBRE TUDO O QUE SE ESTA A PASSAR. TODA ESTA SITUACAO DEVE SER DESMESTIFICADA E PUNIR TODOS ESTES IPOCRITAS QUE SE SERVIRAM DE PESSOAS POUCO ESCLARECIDAS.ATE BREVE