terça-feira, junho 20

E agora, no Ontário? A gota de água...

A gota que fez transbordar esta taça mal cheirosa de um sindicalismo mal entendido foi a quotização cobrada a trabalhadores da construção que aguardavam a sua legalização o Canadá.

RENDER DA GUARDA NA LOCAL 183

Aconteceu o que tinha de acontecer e há muito se esperava: a Direcção das Relações Laborais do Ontário (Ontario Labour Relations Board) concluíu, no passado dia 12 de Junho, haver justa causa para que a Local 183 ficasse sob "tutela administrativa", desta feita sob a responsabilidade de Timothy Armstrong, que foi chairman do Ontario Relations Board of Ontario e vice-ministro do trabalho do Ontário por alguns anos. Será assesorado por Rick Weiss, gerente regional e assistente da LIUNA para o centro leste do Canadá.

Chegou ao fim a administração liderada pelo todo poderoso António Dionísio e seu fiel escudeiro João Dias. A comissão administrativa já tomou posse e, como é regra em situações resultantes de longas lutas internas, segue-se um período de intensa fiscalização de documentos e actos administrativos da gerência passada. Muita tinta ainda correrá pelos jornais e a ver vamos se apenas correrá tinta.

A administração de António Dionísio e João Dias ficou marcada pela arrogância nova rica e pelo espalhafato com que brindavam órgãos de comunicação social com farta publicidade, o que lhes rendia uma promoção pessoal inusitada, além de despesas sumptuárias e descabidas, como aquele célebre passeio de helocóptero sobre Toronto e Nigara Falls a uma governante portuguesa e uma monstruosamente grande cesta de flores enviada pelo aniversário de uma pessoa ao serviço da diplomacia portuguesa. Para ficarmos só por aqui. Se Dionísio e Dias fossem donos de grandes fortunas pessoais, ninguém teria o direito de pedir contas dos seus gastos públicos, mas a verdade é que movimentavam a substancial massa financeira constituída pelas quotizações dos trabalhadores da construção civil. O sentimento de incómodo em relação a este estado de coisas, por parte da maioria dos trabalhadores e da comunidade em geral, foi ainda aumentado quando se começou a saber que pelo menos um dos dois administradores desejava ser membro do Senado do Canadá. Mais uma vez, para grande desconforto da comunidade, se verificava que um cargo dito de utilidade pública servia de trampolim aos que, com mais olhos que barriga, querem ser vereadores, conselheiros, deputados e ministros, à custa da boa fé do eleitorado. Estamos fartos de ver os saltos que dão trustees, sindicalistas, congressistas, tunistas (de tuna) e companhia, porque estamos saturados de fariseus que pintam e bordam sempre a gritarem que amam a comunidade e só estão ao serviço da comunidade.

A gota que fez transbordar esta taça mal cheirosa de um sindicalismo mal entendido foi a quotização cobrada a trabalhadores da construção que aguardavam a sua legalização no Canadá. Podendo trabalhar com uma licença temporária dada pela Imigração, nada, absolutamente nada podia garantir que ficariam imigrantes residentes. Portanto, estariam debaixo da ameaça de deportação. E assim sendo, brada aos céus que lhes tenham sido cobradas quotas pelo sindicato, sem garantia de devolução desse dinheiro caso recebessem ordem de saír do Canadá. Esta prática, despudorada e boçal, faz lembrar a de um tipo da comunidade, useiro e vezeiro em fazer peditórios, em nome de Deus e da caridade, para obras que nunca se fazem, de modo que esses dinheiros somem sempre, sem explicação nem restituição.

Dirão que a administração de Dionísio fez várias obras que beneficiaram os trabalhadores. É verdade. Mas isso, que era o dever dele, não pode justificar o clima de abuso que se engendrou. Os meios não justificam os fins. Seria imoral.

A Local 183 passa, agora, para uma nova fase de vida. Talvez para novas perturbações, só o tempo o dirá. Porque, quanto a nós, o que está errado é a filiação destes sindicatos em centrais americanas, tradicionalmente dominadas por interesses pouco ortodoxos. Seria bem melhor que os sindicatos canadianos fizessem parte da Organização Internacional do Trabalho - com a sua disciplina, a sua fiscalização, as suas sucessivas reciclagens, a sua saudável internacionalização.

F.L.

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